O lado obscuro do segundo recurso mais consumido no planeta.
Se você parar por um instante e observar o espaço a sua volta, a não ser que esteja isolado em uma mata fechada ou no meio de um deserto, perceberá que o cimento está mais presente na sua vida do que imagina! Não é de se duvidar que esse material é protagonista na Construção Civil, tendo um papel super importante no desenvolvimento de inúmeros países.
Perdendo apenas para a água no ranking dos recursos mais consumidos mundialmente, o cimento traz consigo inúmeros problemas para o bem-estar do nosso Planeta. Seu processo de produção além de causar grandes impactos ambientais na extração de matérias primas, o calcário e a argila, também é uma gigantesca fonte de emissão de dióxido de carbono - ou gás carbônico, CO2.
Onde o problema começa
A primeira etapa para a produção do cimento é a extração das matérias primas: o calcário e a argila. Elas são comumente obtidas por meio da detonação de explosivos em pedreiras a céu aberto, onde encontra-se a rocha calcária, e depois transportadas à fábrica para a próxima etapa. Esse processo de extração, assim como toda atividade mineradora, causa um enorme impacto ambiental podendo acabar com os afloramentos naturais de calcários e sua vegetação característica, interferir no ciclo local das águas prejudicando lençóis freáticos, danificar a paisagem do local e inclusive destruir sítios arqueológicos que possuem um grande valor histórico.
Embora existam normas de exploração e parâmetros legais a serem cumpridos para a realização dessas atividades, infelizmente é comum nos depararmos com casos de violação e extrações irregulares por parte de algumas empresas como, por exemplo, exploração de áreas não permitidas, destruição de biomas e até mesmo interferências em estruturas de cavernas. O maior agravante é que a demanda da construção civil é muito alta para a produção do cimento, o que acarreta na abertura de minas cada vez maiores neste ramo, danificando cada vez mais o meio ambiente.
Produção de Clínquer ou de CO2?
O clínquer é o componente principal do cimento e é na sua etapa de produção que ocorrem as maiores emissões de gás carbônico de todo o processo de fabricação.
As matérias primas, após trituradas e homogeneizadas, são misturadas com outros materiais, como o minério de ferro, e colocados em fornos cilíndricos onde são aquecidos por aproximadamente 1450 °C.
Os combustíveis que alimentam esses fornos gigantes são, na maioria das vezes, obtidos de fontes não renováveis, por exemplo o coque de petróleo - muito usado devido ao seu grande poder calorífico e baixo custo de aquisição. Durante esse aquecimento, o que ocorre é um processo denominado calcinação. A grosso modo é uma queima onde ocorre a reação química de decomposição térmica em que o calcário é dividido em óxido de cálcio (cal virgem) e CO2 – perceberam o problema?
Após a calcinação, o material final é bruscamente resfriado formando o clínquer, grãos com tonalidade acinzentada. Depois desse processo, ele é moído e misturado com gesso e outras adições (como calcário, pozolana ou escória) originando os diversos tipos de cimento que conhecemos.
“Só acredito vendo!”
Dados do instituto de pesquisa britânico Chatham House apontam que o cimento é responsável por aproximadamente 8% das emissões mundiais de CO2. Aqui no Brasil estima-se que a fabricação de cimento é responsável por até 7,7% das emissões nacionais de CO2 geradas a partir da queima de combustíveis fósseis, sendo a produção de clínquer a maior fonte dessas emissões, segundo dados da United States Geological Survey e a US Energy Information Administration.
Porque o aumento contínuo e rápido das emissões de CO² são prejudiciais ao Planeta?
Embora haja estudos que discordam do posto de vilão para o CO² no aquecimento global, grande parte da comunidade científica aponta para a influência desse e de outros componentes no desequilíbrio climático do nosso Planeta. Mas, afinal, que desequilíbrio é esse?
Vivemos em uma estufa natural, e ainda bem! A Terra possui uma camada de gases – composta principalmente por gás carbônico (CO²), gás metano (CH4) e o vapor de água - que funcionam como uma “cerca invisível”, guardando parte do calor que recebemos do sol e permitindo assim uma temperatura que possibilite a existência da vida. Caso contrário, todo calor que recebêssemos do Sol seria devolvido por completo para o espaço, a temperatura média da Terra seria extremamente baixa e não existiria água na forma líquida - nem vida!
O nosso Planeta possui um processo natural de mudanças que ocorre ao longo de milhões de anos. Porém com a intervenção humana esse processo é modificado, causando desequilíbrios como o aquecimento global. Se a emissão de gás carbônico continuar aumentando na mesma velocidade dos últimos anos, a temperatura do planeta poderá aumentar suficientemente para causar desastres como o derretimento do gelo das regiões polares, causando inundações de grande parte da costa dos continentes. As correntes oceânicas também poderão ser afetadas de forma a alterar a distribuição de calor na Terra, grandes regiões agrícolas poderão se tornar desertos, e tempestades violentas poderão ocorrer com mais frequência por causa das variações climáticas.
Nem tudo está perdido!
Por falar em preocupação com o clima do planeta, a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável juntamente com os 17 ODS - Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram criados no ano de 2015 em uma reunião com mais de 150 líderes mundiais e prevê metas especiais voltadas para a mudança global do clima. O Objetivo 13: Ação Contra a Mudança Global do Clima busca tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos.
Embora as informações sobre o impacto do cimento não estejam tão presentes quanto o próprio no nosso dia a dia, pesquisadores do mundo inteiro já se mobilizaram em diversos estudos na busca de alternativas sustentáveis para o protagonista da construção civil. Entre as alternativas mais estudadas podemos citar:
Coprocessamento: substituição do combustível fóssil e não-renovável usado na alimentação do forno rotativo por resíduos provenientes de outras indústrias, utilizando cada vez menos combustíveis de origem fóssil e também diminuindo a produção de lixo.
Mudança na formulação do clínquer: A indústria cimenteira tem utilizado o pó de calcário ou filler de calcário cru substituir parcialmente o clínquer na sua formulação. Esse material é uma matéria prima que dispensa a calcinação - etapa que emite grande quantidade de CO².
Captura de dióxido de carbono: Essa técnica se utiliza de mecanismos físico-químicos para separar o CO² e outras técnicas de compressão para armazenar geologicamente o dióxido de carbono. Logo, o gás carbônico seria capturado antes de ser solto na atmosfera.
E aí, ficou surpreso com os impactos gerados na produção do cimento? Apensar do lado obscuro, mas sem tirar a necessidade de reformulação de todos esses processos prejudiciais ao planeta, o cimento foi e ainda é um recurso revolucionário, de extrema importância econômica e social no mundo.
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REFERÊNCIAS:
CETEM. Exploração do calcário provoca diferentes impactos socioambientais no Brasil. Disponível em: http://verbetes.cetem.gov.br/verbetes/ExibeVerbete.aspx?verid=173#:~:text=A%20extra%C3%A7%C3%A3o%20de%20calc%C3%A1rio%20pode,%C2%B4%C3%A1gua%20natural%20e%20eficaz. Acesso em: 11 dez. 2020.
Rodgers, Lucy. Aquecimento global: a gigantesca fonte de CO2 que está por toda parte, mas você talvez não saiba. BBC News. Dez. 2018. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-46591753#:~:text=Em%202016%2C%20a%20produ%C3%A7%C3%A3o%20mundial,atribu%C3%ADdas%20%C3%A0%20produ%C3%A7%C3%A3o%20de%20cl%C3%ADnquer. Acesso em: 12 dez. 2020.
ECYCLE. Clínquer: o que é, impactos ambientais e alternativas. Disponível em: https://www.ecycle.com.br/5870-clinquer. Acesso em: 13 dez. 2020.
Parabéns pelas informações sobre as ações indevidas e as devidas para melhorar o clima do nosso Planeta Terra. Pois e nele " Terra" que vivemos e pretendemos por outras gerações estar. Então, já passou da hora e o momento é agora para a mudança. Vamos fazer por onde melhorar a vida de todos... A "TERRA" já esta reclamando à muito tempo... Professor Ricardo Alves Berbari.